segunda-feira, 18 de julho de 2011

GAS COMO INSUMO

Um dos poucos consensos existentes entre os especialistas de energia neste momento é o reconhecimento de que a crise energética, em particular a crise nuclear que se estabeleceu no Japão após o grande terremoto do dia 11 de março, tenderá a beneficiar o mercado internacional de gás natural como a melhor alternativa de curto e médio prazo para se restabelecer o fornecimento de energia elétrica no Japão.
Adicionalmente, a produção nacional de gás natural norte-americana se recuperou a partir do shale gas o que pressionou ainda mais para baixo os preços no mercado internacional de GNL. O resultado foi o surgimento de um excesso de capacidade de liquefação e de transporte.
Enquanto países industrializados ainda têm alguma esperança na “quimera do gás de xisto”, o Brasil dá-se ao luxo de re-injetar gás natural nos novos poços ou queimá-lo simplesmente, por falta de consumidores

Mesmo com reservatórios cheios nesta época do ano o regime de operação do sistema elétrico tem sido alterado de forma a tornar a operação das centrais termelétricas a gás mais freqüente.
“Alguns fatos recentes indicam que a revisão do regime de operação do setor elétrico é exeqüível: (i) As descobertas de gás natural no mar e em terra irão disponibilizar volumes relevantes de gás natural nos próximos anos; (ii) A prática comum de despacho de centrais termelétricas por razão de segurança revela a insatisfação com o regime de operação atual do setor elétrico” (Luciano Losekann).
Mas, se o custo operacional médio é mais elevado, os riscos por acidentes climáticos são menores diminuindo a necessidade de investimentos em linhas distantes, cujos custos de capital são excessivos.
Para avaliar o efeito líquido para o setor elétrico é necessário quantificar as alterações de custo de capital e operacional resultantes da operação mais freqüente de centrais a gás.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

LAVOURA ARCAICA

Não há muita diferença entre produzir cana e outros grãos, tanto assim, que convivem lado a lado.
Não há também diferença substancial entre lavoura de cana para produção de açúcar e produção de álcool. Ambos usam recursos naturais e petróleo. Gozam de subsídios ao diesel e créditos sem os quais não subsistiriam.

Ambos são processos arcaicos que remontam ao “ciclo da cana” que deixou tantos estragos ao nordeste, com a diferença que naquele tempo existia trabalho escravo e o transporte era feito por “carro de boi e tropa”. De lá para cá as coisas mudaram: vieram novas tecnologias, mas o processo continua antiquado.
Em que etapas do processo estão as principais deficiências?

BALANÇO ENERGÉTICO
Citado muitas vezes como vantagem, o rendimento energético, em termos de entrada e saída de energia, reflete apenas custos operacionais.
Nestes estão incluídos o custo do transporte da cana e gasto de combustível no processo de destilação.

Mas, não basta ter bom rendimento para ter custo final baixo. O que tem de ser levado em conta, no cômputo do custo final, é o custo de capital para o manejo de grande volume de material de baixa densidade.
É preciso levar em conta o custo de capital, sobre o qual incorrem juros que constitui a maior parcela do custo final.



TRANSPORTE TERCEIRIZADO

Em que pese o aspecto anacrônico e o incômodo que causam nas estradas – por incrível que pareça – o custo operacional do transporte da cana em estado bruto ainda é pequeno, conquanto 10 vezes mais caro do que o transporte de grãos que deixam os resíduos na lavoura.

Um treminhão, por exemplo, transporta 30 ton (40 m³) por 120 Reais, independente do fato que esteja transportando grãos ou cana. O custo é o mesmo, não importa que transporte 90% de água e bagaço e só 10% de álcool contido na cana.

Custo/ton transportada de grãos: 120/30 = 4 R$
Custo/ton transportada de álcool: 120/3 = 40 R
O custo de transportar o álcool contido será 10 vezes maior, ou seja 40 R$/ton, que representa incidência de apenas 3% sobre o preço de 1400 R$/ton do álcool posto na usina.

GASTO DE COMBUSTÍVEL

O transporte da água contida na cana (60%) é inevitável pela sua própria natureza, bem como o do próprio bagaço (30%).
Mas nada impede que sua extração – também inevitável -- seja acelerada pelo emprego de combustível mais eficiente.
Mas, em que pese o grande volume de água contido no caldo da cana, o processo de extração em si custa pouco porque utiliza como insumo o bagaço úmido de valor desprezível. O gasto de combustível é pequeno.

O bagaço é apenas um mal necessário. Nem oleiros o utilizam, mesmo que cedido gratuitamente a título de limpeza do terreno. Sua queima poderia ser evitada e reservada sua utilização para outros fins mais úteis.

Se fosse utilizado um combustível de maior poder calorífico, como o gás, ou o álcool de sua própria fabricação, isto refletiria de modo positivo no custo final, permitindo instalações de menor porte, inclusive caminhões a gás, ou o álcool, de menor custo de capital, as expensas do maior consumo.
Caminhões e instalações permanecem ociosos na entressafra, incorrendo juros sobre o capital empatado. Daí o motivo do transporte ser terceirizado.


CUSTO DE CAPITAL: O ELEFANTE BRANCO

Apenas 10% da cana constitui material útil transformável álcool. O resto, 90% é constituído por água, 60% e bagaço, 30%.
Tal como hidroelétricas a usina de cana de açúcar tem baixo custo operacional. Utilizam pouca mão de obra e gastam pouca energia devido ao processo mecanizado. Mas são intensivas em capital devido ao porte das instalações.

BAGAÇO COMO INSUMO

Outro foco de ineficiência é a queima do bagaço para gerar energia, mesmo que seja para produzir “calor de processo”.
Não faz nenhum sentido queimar um combustível de baixa qualidade – apenas porque é gratuito -- para gerar pouca energia em térmicas de baixo rendimento (~30%) e jogar fora 70% de energia em forma de calor e emitindo gazes. Tem que ser levado em conta o custo elevado de capital das térmicas convencionais a vapor d’água, sobre o qual incide juros: verdadeira reminiscência da revolução industrial.

A melhor solução é o emprego de termoelétrica a gás em usinas de ciclo combinado para gerar energia elétrica, ao mesmo tempo em que economiza bagaço para outros fins.



COGERAÇÃO

O que se pretende para um país em desenvolvimento, com escassez de recursos de capital?
Investir preciosos recursos em empreendimentos de grande porte da Amazônia ou utilizar gás em termoelétricas mais baratas? O mesmo acontece com as usinas de álcool e açúcar.

Utilizar bagaço para geração de energia equivale a queimar palha de café – um recurso precioso – na seca do próprio café. Bagaço é “fogo de palha”.

A simples substituição por lenha já seria um grande avanço.
A auto-suficiência em energia – proclamada como grande vantagem – é um verdadeiro “atestado de burrice”.

A cogeração pode ser o caminho.
A verdadeira cogeração é a utilização de usinas de ciclo combinado, através de termoelétricas a gás ou álcool, associadas na mesma planta às térmicas convencionais, com pleno aproveitamento da energia calorífica do combustível:
- Parte como energia eletro-mecânica útil no eixo do conjunto turbina-gerador.
- E a maior parte como energia calorífica, utilizada para economizar bagaço para fins mais úteis, entre os quais a produção de mais álcool, ou, simplesmente devolvido ao lugar de origem na forma de composto orgânico em combinação com o vinhoto.







TRANSPORTE “CARROÇA”

O transporte da cana em estado bruto é altamente ineficiente quando comparado ao de outros grãos que transportam apenas o produto final, deixando os restos na lavoura.

Enquanto uma carreta transporta 30 toneladas de álcool ou grãos a granel, o comboio agrícola, usado na lavoura de cana, transporta apenas o equivalente a 3 toneladas (10%) do álcool que vai se produzido por 30 toneladas de cana. O restante do peso é constituído de água (60%) e bagaço úmido de valor desprezível (30%).
Portanto, o custo operacional por tonelada de álcool transportado é 10 vezes superior ao custo dos demais grãos. Não é por acaso que sejam usados treminhões, considerando o grande volume correspondente ao pequeno conteúdo em peso do álcool a ser produzido.
Ocorre também que na maior parte do tempo treminhões permanecem ociosos na entressafra, incorrendo juros sobre o capital empatado. Metade das viagens corresponde a retorno sem carga.

INCIDÊNCIA NO CUSTO DO TRANSPORTE:

Um treminhão faz um percurso de 20 Km para transportar 3 ton de álcool equivalente. Precisa fazer 10 viagens para transportar o equivalente a 30 ton de álcool por dia. Percorreu 400 Km e recebe 1200 R$.
Custo unitário: 1200/3 = 400 R$/ton

No mesmo dia, uma carreta faz uma viagem de 400 Km até Paulínia e transporta 10 ton de álcool puro. Percorre os mesmos 400 km e recebe os mesmos 1200 R$.
Custo unitário: 1200/30 = 40 R$/ton
Como se vê, o custo por tonelada transportada é 10 vezes maior.

Preço do álcool hidratado em 14/04:
1400 R$/ton nas usinas e 1500 R$/ton em Paulínia, evidenciando a baixa incidência do transporte no preço do álcool.


Considerando que a velocidade do comboio seja metade da velocidade da carreta -- nas condições precárias por carreadores de terra -- e a necessidades de carregadeiras auxiliares lentas, o custo do transporte da cana em estado bruto chegaria a usina a um custo 3 vezes maior do que o custo do álcool equivalente na roça.
Custo do álcool equivalente posto na usina: 1200 R$
Podemos então concluir que o transporte pesa muito em relação ao valor do produto. Fato que não acontece com da maioria dos grãos, cujo transporte se refere ao produto final, quase isento de beneficiamento.

Mas, em escala global, é o que acontece com a maioria dos produtos primários, grãos e minérios, que são interiorizados nos países de destino em condições semelhantes, depois de um passeio inútil por estradas esburacadas e navios ao redor do mundo.


PROCESSO INDUSTRIAL

Aqui também o processo não é menos primitivo. Envolve enorme gasto de energia no manejo de quantidade considerável de caldo de cana fermentada da qual deve ser extraída a água e vinhoto, um resíduo altamente poluente, para o qual dar destino adequado. Ao final do processo de destilação o resultado é a minguada quantidade de 10% de álcool, numa proporção de 7 toneladas/hectare de álcool para cada 70 toneladas/hectare de cana.

Em escala nacional, representa a manipulação de 200 milhões de toneladas de cana para a produção aproxima de 20 bilhões de litros de álcool e a ocupação de cerda de 3 milhões de hectares.
Não importa que tenha um bom rendimento em termos de entrada/saída de energia. O que interessa de fato é o rendimento em termos monetários (de dinheiro gasto). Neste caso, pode-se até dizer que o rendimento é infinito, uma vez que o insumo tem valor desprezível. Este fato reflete apenas custos operacionais.




A VERDADE DOS CUSTOS

O que de fato precisa ser levado em conta são os custos de capital de todo o processo, começando pelo custo dos veículos (treminhões), na maior parte do tempo ociosos na entressafra. A seguir o elevado custo de capital do processo de retirada da água (60%) e da remoção da pirâmide de bagaço úmido, 30%, que não tem serventia para nada, nem para oleiros.
Apesar de não ter não ter custos operacionais – uma vez que o insumo (bagaço) tem valor desprezível – não há vantagem alguma em queimar bagaço apenas porque é gratuito.
Tem elevado custo de capital de instalações -- tal qual uma usina hidroelétrica – semelhante ao das antigas térmicas a vapor que usam caldeiras para geração de eletricidade, verdadeira “reminiscência arqueológica” da revolução industrial.

Esta é a imagem real da plantação de cana para a produção de álcool ou açúcar no Brasil e não aquela maravilha que todos imaginam como tecnológica. Quase tudo fica resumido numa indústria de transporte e produção ineficientes. Salva os avanços na produtividade e no emprego de tecnologia agronômica de seleção de linhagens e da biotecnologia na produção de clones.




TIRA TEIMA

Uma prova de eficiência para as usinas de álcool seria a utilização do próprio álcool como combustível nos veículos de transporte interno e nas termoelétricas. Mas, os usineiros preferem usar o diesel subsidiado, é claro.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

NÉO-COLONIALISMO

BRASILEIRO
Os candidatos na eleição do Peru, o esquerdista “Anta, O Mala, o presidento”, e a direitista “Fugimóri, a presidenta” terão discurso semelhante. O Mala vai rever licenças ambientais da usina Inambari, tocada pela Eletrobrás. Keiko vai brigar com a Votorantin pelo aproveitamento dos resíduos de exploração do Zinco: o “Índio metálico”, elemento pouco conhecido usado em telas de LCD.
Anta já está sendo assessorado por dois marketeiros da campanha da nossa “presidenta” que quer agora internacionalizar estatais: Eletrobrás e “Correios & Telégrafos”; BNDES ajudando a turbinar empresas do governo.
No final da campanha entra em cena a figura mítica do nosso EX, explicando, com seu inegável poder de comunicação com as massas, como se faz para ganhar eleições:
“Não é bem assim, companheiros indígenas. Ninguém vai explorar os simpáticos índios e índias peruanos, nada não: podem tirar o “seu chapéu” para o companheiro Mala que é gente fina. Depois de ganha eleição, vamos mudar as coisas pra que tudo permaneça como está, do mesmo jeito que aconteceu no Brasil com o Pré-sal e Belo Monte (referência a Tancredi da obra “Leopardo”, de Tomaso de Lampeduza). Nós somos bonzinhos, o que vamos fazer é substituir o imperialismo americano por um imperialismo mais humano. Depois nós devolvemos tudo como fizemos com o companheiro Evo, com o companheiro Rafael Correa e com o companheiro bispo.

sábado, 30 de abril de 2011

GÁS: INSUMO PARA COGERAÇÃO

Entretanto, em lugar de contar com as expectativas do Pré-sal --cuja distribuição de royalties sequer foi apreciada pelo novo congresso – há uma alternativa modesta muito mais promissora na utilização do gás que não requer grandes investimentos.

Até aqui há uma procura de mercado para o gás dos campos terrestres que está sendo queimado por falta de opções. Com a rede de gasodutos pronta, a procura é tão intensa que os papéis se inverteram: é o mercado que procura pelo gás dos campos terrestres e do Pós-sal. Mas, esta é uma tendência acontecendo em todo mundo, não um fenômeno exclusivo do Brasil.

"Fornos a arco podem reduzir consumo de carvão fóssil em siderúrgicas" (Carajás). Único exemplo de cogeração a partir de hidroelétricas desocupadas.

Não há impedimentos legais e os atrativos econômicos são grandes. A maior dificuldade é a cultura estabelecida no governo, reguladores, concessionárias e consumidores segundo a qual apenas a geração centralizada com longas linhas de transmissão consegue, com sua escala de produção, produzir energia de baixo custo.
Hoje, há várias oportunidades de geração distribuída mais eficazes que as alternativas centralizadas, mas é preciso lutar contra as dificuldades e as normas que dificultam ou impedem sua realização. É preciso, também, informar os consumidores sobre as oportunidades abertas pelo novo modelo de exploração do setor elétrico.

O ELEFANTE BRANCO

ÁLCOOL COMO COMBUSTÍVEL

O Álcool foi um bom substituto da gasolina enquanto o país não produzia petróleo. Hoje, a produção de etanol vem perdendo a concorrência para outros combustíveis, especialmente o anidro, mais caro do que a gasolina.
Estados Unidos produz etanol de milho em condições precárias, graças a generosos subsídios. Mas, é uma um tipo de agroindústria tão ou mais arcaica do que a brasileira, que só um país altamente capitalizado consegue suportar. Lá, também fazem “besteiras”. Não é uma particularidade exclusiva dos brasileiros.
Entretanto, não faz sentido desmontar uma indústria arcaica que custou tanto imposto ao contribuinte brasileiro. Permanece como reserva estratégica dos “engenhos de cana de açúcar”. Ou, na melhor das hipóteses, sua tecnologia pode ser exportada para países mais pobres da áfrica. A América Latina já passou por isso e todo mundo conhece o resultado: veja Cuba.

O ELEFANTE BRANCO

A usina de açúcar pertence à mesma categoria de usinas nucleares, hidroelétricas, eólicas, usinas de biomassa, etc. nas quais o combustível é barato ou quase gratuito. Pouco intensivas em mão de obra, todas têm baixo custo operacional.
-- Nucleares utilizam quilos de urânio enriquecido, praticamente inesgotável
-- Nas grandes hidroelétricas e eólicas, água e vento são gratuitos
-- Bagaço de cana tem as próprias usinas como único mercado. É um péssimo combustível que torna lenta a extração de água. Um mal necessário, tanto quanto a água contida na cana, mas que são inevitáveis pela própria natureza do processo.
Mas, requerem grande capital para a sua construção, sobre o qual incide juros que constituem a maior parcela do custo final.

GÁS; O “PRESENTE” DO FUTURO.

Gás como subproduto
A alternativa promissora está mais no presente do gás natural e das fontes renováveis exóticas do que na produção de petróleo propriamente dito e das grandes hidroelétricas.
Grandes descobertas nos últimos dez anos tornaram o gás natural a alternativa mais promissora de energia para os próximos 40 anos devido a sua abundância e ao custo próximo de zero. Libera menos CO² do que carvão, gasolina (diesel) e até menos do que o etanol em que pese o sucesso do Proálcool.
Encontrado de forma dispersa (descentralizada), custa menos e é mais seguro transportar gas (energia potencial) do que energia elétrica.
Em calor de processo custa metade da eletricidade gasta em chuveiros mesmo incluindo custo de capital. E para acionamento de veículos é mais barato devido o alto preço da tarifa de energia elétrico: um feudo do governo.
É um subproduto da exploração de petróleo em área já licitada: terrestre e fora do Pré-sal.

ÁLCOOL: O FUTURO DO PRETÉRITO.
Mas, se é inevitável que o Brasil produza petróleo na próxima década, isto representa uma grande oportunidade para o país porque é o tipo de fonte primária em cuja utilização ocorrem os maiores desperdícios e onde uma política de economia no uso final tem as melhores chances de sucesso pela sua diversidade de alternativas. O Brasil já tem um sistema elétrico bastante otimizado. Todas as demais alternativas envolvem emprego de capital.
O que se pretende para um país em desenvolvimento, com escassez de recursos de capital?
-- Investir preciosos recursos em empreendimentos de grande porte da Amazônia ou utilizar gás em termoelétricas mais baratas?
O mesmo acontece com as usinas de álcool e açúcar. Não se pode prever até quando o açúcar e outras comodities continuarão em alta. Mas uma coisa é certa: chineses e indianos tem preferência pelos alimentos, uma necessidade mais vital do que o álcool para consumo de automóveis

OURO NEGRO

Sobrevida do petróleo
Toda forma de energia, a ser utilizada em larga escala no mundo todo, passará de uma forma ou de outra, pela queima de algum combustível.
A recessão nos países industrializados trouxe de volta o fantasma da dura realidade: por algum tempo ainda 80% do consumo de energia continuará dependente do petróleo como fonte principal de suprimento:
-- 60% do consumo para aquecimento nos países de clima frio, sobretudo países industrializados.
-- 50% das necessidades de alimentação e transporte dos países em desenvolvimento onde o crescimento do consumo de energia é maior, justamente nas atividades mais consumidoras de energia. Nos países industrializados, ao contrário, o consumo de energia está estabilizado: crescimento do PIB com queda no consumo per cápita de energia.
A dependência de petróleo pode perdurar por algum tempo como conseqüência do acidente nas usinas japonesas que, apesar do encarecimento do custo de capital, constitui uma esperança para o futuro. Este fato leva a necessidade de mais petróleo para cobrir o déficit das usinas paralisadas.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

veículos e instalações

CUSTO DE CAPITAL
O transporte de 60% da água contida na cana é inevitável pela sua própria natureza, bem como de 30% do próprio bagaço, separado do caldo depois da moagem da cana.

Mas nada impede que extração da água contida no caldo – também inevitável -- seja acelerada pelo emprego de combustível mais eficiente.
Mas, em que pese o grande volume de água contido no caldo da cana, o processo de extração em si custa pouco em termos de combustível, porque utiliza como insumo o bagaço úmido de valor desprezível. O gasto de combustível, neste caso, é pequeno.

O bagaço é apenas um mal necessário. Nem oleiros o utilizam, mesmo que cedido gratuitamente a título de limpeza do terreno. Sua queima poderia ser substituída pela queima de combustível mais eficiente, ficando reservada sua utilização para outros fins mais úteis.

Se fosse utilizado um combustível de maior poder calorífico, como o gás, ou o álcool de sua própria fabricação, isto refletiria de modo positivo no custo final, permitindo instalações de menor porte, sobre as quais a incidência de juros é menor, especialmente no período ocioso da entressafra.

TRANSPORTE TERCEIRIZADO

No que concerne ao transporte de grandes volumes, poderiam ser utilizados caminhões a gás, ou o álcool, de maior consumo, mas, em contrapartida, de menor custo de capital.
Mesmo utilizando diesel subsidiado – caso da maioria da usinas -- caminhões próprios também permanecem ociosos na entressafra, incorrendo juros sobre o capital empatado.

Conquanto o custo de transportar cana em estado bruto seja 10 vezes maior do que o de transportar grãos, a incidência do custo do transporte do álcool contido na cana não chegaria a 10% do preço do álcool posto na usina.
De qualquer forma, este problema já foi resolvido com o transporte terceirizado.

CUSTO OPERACIONAL

: combustível

Em que pese o aspecto anacrônico e o incômodo que causam nas estradas – por incrível que pareça – o custo operacional do transporte da cana em estado bruto ainda é pequeno, conquanto 10 vezes mais caro do que o transporte de grãos que deixam os resíduos na lavoura.

Um treminhão, por exemplo, transporta 30 toneladas, independente do fato de que esteja transportando 20 m³ de grãos ou 40 m³ cana. O custo é o mesmo, não importa que transporte 90% de água e bagaço e só 10% de álcool contido na cana.

CONSUMO DE COMBUSTÍVEL

Um treminhão que faz 2 km/litro de diesel gasta 1 Real por km rodado.
No percurso médio de 80 Km ao redor da usina, 40 km de ida e 40 de volta vazio, um treminhão consome 80 R$ de combustível transportando o equivalente a 3 toneladas de álcool contido em 30 toneladas de cana em estado bruto.
Custo/ton transportada num percurso de 80 Km:
Somente grãos....................80/30 ~= 2.7 R$
De álcool equivalente...........80/3 ~= 27,0 R$

Logo, a incidência do combustível gasto no preço final do álcool será aproximadamente de 2% (27/1400).

O custo de transportar o álcool contido na cana será 10 vezes maior, ou seja, 27 R$/ton, que representa incidência de cerca de 2% sobre o preço do álcool de 1400 R$/ton posto na usina. Mas, veículos – especialmente se forem próprios -- também têm custos de capital alem do consumo de combustível.

GRANDES USINAS

: GRANDES INVESTIMENTOS

A usina de açúcar pertence à mesma categoria de usinas nucleares, hidroelétricas, eólicas, usinas de biomassa, etc. nas quais o combustível é barato ou quase gratuito. Pouco intensivas em mão de obra, todas têm baixo custo operacional.
-- Nucleares utilizam quilos de urânio enriquecido, praticamente inesgotável
-- Nas grandes hidroelétricas e eólicas, água e vento são gratuitos
-- Bagaço de cana tem as usinas como único mercado. É um péssimo combustível que torna lenta a extração de água. Um mal necessário, tanto quanto a água contida na cana, mas que são inevitáveis pela própria natureza do processo.
Mas, requerem grande capital para a sua construção, sobre o qual incide juros que constituem a maior parcela do custo final.

Mas, usinas de cana são utilizadas para produção de alimentos e energia. As outras formas de energia são veículos para produção de alimentos e outros bens industriais. Usinas de biomassa não são apropriadas para a produção de calor para aquecimento, outra “necessidade básica” do ser humano. Tão importante quanto alimentação. Neste caso, é mais vantajoso queimar o combustível diretamente na produção de calor, de acordo com II° princípio da termodinâmica.

A VERDADE DOS CUSTOS

O que de fato precisa ser levado em conta são os custos de capital de todo o processo, começando pelo custo dos veículos (treminhões), na maior parte do tempo ociosos na entressafra. Razão porque o transporte é terceirizado.
A seguir o elevado custo de capital do processo de retirada da água (60%) e da remoção da pirâmide de bagaço úmido, 30%, que não tem serventia para nada, nem para oleiros.
Apesar de não ter não ter custos operacionais – uma vez que o insumo (bagaço) tem valor desprezível – não há vantagem alguma em queimar bagaço apenas porque é gratuito.
Tem elevado custo de capital de instalações -- tal qual uma usina hidroelétrica, eólica, usina de biomassa – semelhante ao das antigas térmicas a vapor que usam combustível fóssil em caldeiras para geração de eletricidade, verdadeira “reminiscência arqueológica” da revolução industrial.

Esta é a imagem real da plantação de cana para a produção de álcool ou açúcar no Brasil e não aquela maravilha que todos imaginam como tecnológica. Quase tudo fica resumido numa indústria de transporte e produção ineficientes. Salva os avanços na produtividade e no emprego de tecnologia agronômica de seleção de linhagens e da biotecnologia na produção de clones. È onde tem acontecido os maiores avanços.

INCIDÊNCIA NO PREÇO FINAL

CONSUMO DE COMBUSTÍVEL

Um treminhão que faz 2 km/litro de diesel gasta 1 Real por km rodado.
No percurso médio de 80 Km ao redor da usina, 40 km de ida e 40 de volta vazio, um treminhão consome 80 R$ de combustível transportando o equivalente a 3 toneladas de álcool contido em 30 toneladas de cana em estado bruto.
Custo/ton transportada num percurso de 80 Km:
Somente grãos....................80/30 ~= 2.7 R$
De álcool equivalente...........80/3 ~= 27,0 R$

Logo, a incidência do combustível gasto no preço final do álcool será aproximadamente de 2% (27/1400).

O custo de transportar o álcool contido na cana será 10 vezes maior, ou seja, 27 R$/ton, que representa incidência de cerca de 2% sobre o preço do álcool de 1400 R$/ton posto na usina.


Um treminhão faz um percurso médio de 80 Km para transportar 3 toneladas de álcool equivalente. Recebe 80 R$/viagem.
Custo unitário: 80/3 = 27 R$/ton
Considerando o valor de 1400 R$/tonelada do álcool hidratado, representa uma incidência de 2% do valor do álcool posto na usina.
Podemos então concluir que o transporte pesa pouco em relação ao valor do produto. Fato que não acontece com da maioria dos grãos, cujo transporte se refere ao produto final, quase isento de beneficiamento.

Mas, em escala global, é o que acontece com a maioria dos produtos primários, grãos e minérios, que são interiorizados nos países de destino em condições semelhantes, depois de um passeio inútil por estradas esburacadas e navios ao redor do mundo.

TRANSPORTE “CARROÇA”

O transporte da cana em estado bruto é altamente ineficiente quando comparado ao de outros grãos que transportam apenas o produto final, deixando os restos na lavoura.

Enquanto uma carreta transporta 30 toneladas de álcool ou grãos a granel, o comboio agrícola, usado na lavoura de cana, transporta apenas o equivalente a 3 toneladas (10%) do álcool que vai se produzido por 30 toneladas de cana. O restante do peso é constituído de água (60%) e bagaço úmido de valor desprezível (30%).

Portanto, o custo operacional por tonelada de álcool transportado é 10 vezes superior ao custo dos demais grãos. Não é por acaso que sejam usados treminhões, considerando o grande volume correspondente ao pequeno conteúdo em peso do álcool a ser produzido.
Ocorre também que na maior parte do tempo treminhões permanecem ociosos na entressafra, incorrendo juros sobre o capital empatado. Metade das viagens corresponde a retorno sem carga. Por esta e outras razões é que o transporte é terceirizado.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

TIRA TEIMA

Uma prova de eficiência para as usinas de álcool seria a utilização do próprio álcool como combustível nos veículos de transporte interno e nas termoelétricas. Mas, os usineiros preferem usar o diesel subsidiado, é claro.

PROCESSO INDUSTRIAL

Aqui também o processo não é menos primitivo. Envolve enorme gasto de energia no manejo de quantidade considerável de caldo de cana fermentada da qual deve ser extraída a água e vinhoto, um resíduo altamente poluente, para o qual dar destino adequado. Ao final do processo de destilação o resultado é a minguada quantidade de 10% de álcool, numa proporção de 7 toneladas/hectare de álcool para cada 70 toneladas/hectare de cana.

Em escala nacional, representa a manipulação de 200 milhões de toneladas de cana para a produção aproxima de 20 bilhões de litros de álcool e a ocupação de cerda de 3 milhões de hectares.
Não importa que tenha um bom rendimento em termos de entrada/saída de energia. O que interessa de fato é o rendimento em termos monetários (de dinheiro gasto). Neste caso, pode-se até dizer que o rendimento é infinito, uma vez que o insumo tem valor desprezível. Este fato reflete apenas custos operacionais.




A VERDADE DOS CUSTOS

O que de fato precisa ser levado em conta são os custos de capital de todo o processo, começando pelo custo dos veículos (treminhões), na maior parte do tempo ociosos na entressafra. A seguir o elevado custo de capital do processo de retirada da água (60%) e da remoção da pirâmide de bagaço úmido, 30%, que não tem serventia para nada, nem para oleiros.
Apesar de não ter não ter custos operacionais – uma vez que o insumo (bagaço) tem valor desprezível – não há vantagem alguma em queimar bagaço apenas porque é gratuito.
Tem elevado custo de capital de instalações -- tal qual uma usina hidroelétrica – semelhante ao das antigas térmicas a vapor que usam caldeiras para geração de eletricidade, verdadeira “reminiscência arqueológica” da revolução industrial.

Esta é a imagem real da plantação de cana para a produção de álcool ou açúcar no Brasil e não aquela maravilha que todos imaginam como tecnológica. Quase tudo fica resumido numa indústria de transporte e produção ineficientes. Salva os avanços na produtividade e no emprego de tecnologia agronômica de seleção de linhagens e da biotecnologia na produção de clones.

COGERAÇÃO

O que se pretende para um país em desenvolvimento, com escassez de recursos de capital?
Investir preciosos recursos em empreendimentos de grande porte da Amazônia ou utilizar gás em termoelétricas mais baratas? O mesmo acontece com as usinas de álcool e açúcar.

Utilizar bagaço para geração de energia equivale a queimar palha de café – um recurso precioso – na seca do próprio café. Bagaço é “fogo de palha”.

A simples substituição por lenha já seria um grande avanço.
A auto-suficiência em energia – proclamada como grande vantagem – é um verdadeiro “atestado de burrice”.

A cogeração pode ser o caminho.
A verdadeira cogeração é a utilização de usinas de ciclo combinado, através de termoelétricas a gás ou álcool, associadas na mesma planta às térmicas convencionais, com pleno aproveitamento da energia calorífica do combustível:
- Parte como energia eletro-mecânica útil no eixo do conjunto turbina-gerador.
- E a maior parte como energia calorífica, utilizada para economizar bagaço para fins mais úteis, entre os quais a produção de mais álcool, ou, simplesmente devolvido ao lugar de origem na forma de composto orgânico em combinação com o vinhoto.

CUSTO DE CAPITAL

: O ELEFANTE BRANCO

Apenas 10% da cana constitui material útil transformável álcool. O resto, 90% é constituído por água, 60% e bagaço, 30%.
Tal como hidroelétricas a usina de cana de açúcar tem baixo custo operacional. Utilizam pouca mão de obra e gastam pouca energia devido ao processo mecanizado. Mas são intensivas em capital devido ao porte das instalações.

BAGAÇO COMO INSUMO
Outro foco de ineficiência é a queima do bagaço para gerar energia, mesmo que seja para produzir “calor de processo”.
Não faz nenhum sentido queimar um combustível de baixa qualidade – apenas porque é gratuito -- para gerar pouca energia em térmicas de baixo rendimento (~30%) e jogar fora 70% de energia em forma de calor e emitindo gazes. Tem que ser levado em conta o custo elevado de capital das térmicas convencionais a vapor d’água, sobre o qual incide juros: verdadeira reminiscência da revolução industrial.

A melhor solução é o emprego de termoelétrica a gás em usinas de ciclo combinado para gerar energia elétrica, ao mesmo tempo em que economiza bagaço para outros fins.

BALANÇO ENERGÉTICO

Citado muitas vezes como vantagem, o rendimento energético, em termos de entrada e saída de energia, reflete apenas custos operacionais.
Nestes estão incluídos o custo do transporte da cana e gasto de combustível no processo de destilação.

Mas, não basta ter bom rendimento para ter custo final baixo. O que tem de ser levado em conta, no cômputo do custo final, é o custo de capital para o manejo de grande volume de material de baixa densidade.
É preciso levar em conta o custo de capital, sobre o qual incorrem juros que constitui a maior parcela do custo final.

LAVOURA ARCAICA

Não há muita diferença entre produzir cana e outros grãos, tanto assim, que convivem lado a lado.
Não há também diferença substancial entre lavoura de cana para produção de açúcar e produção de álcool. Ambos usam recursos naturais e petróleo. Gozam de subsídios ao diesel e créditos sem os quais não subsistiriam.

Ambos são processos arcaicos que remontam ao “ciclo da cana” que deixou tantos estragos ao nordeste, com a diferença que naquele tempo existia trabalho escravo e o transporte era feito por “carro de boi e tropa”. De lá para cá as coisas mudaram: vieram novas tecnologias, mas o processo continua antiquado.
Em que etapas do processo estão as principais deficiências?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

CARAJÁS:

: EM BUSCA DO ELO PERDIDO

Como não é assunto de nossa alçada reproduzimos “ipsis literis” um resumo do brilhante trabalho feito pelo próprio autor a quem cabe os créditos:

Maurílio de Abreu Monteiro

O artigo analisa o processo de instalação, na Amazônia Oriental brasileira, de diversos
produtores independentes de ferro-gusa, nas últimas duas décadas. Foram implantadas no Corredor da Estrada de Ferro Carajás doze siderúrgicas. São empresas dedicadas somente à produção desta commoditie cuja produção requer elevada quantidade de energia suprida por carvão vegetal.

Neste artigo, mostramos que houve deslocamento para a Amazônia de indústrias que
até os anos 90 estavam concentradas exclusivamente no Sudeste brasileiro e que a demanda de carvão vegetal consolidou-se como principal elo de articulação da siderurgia com a socioeconomia da região de Carajás.

A produção de carvão vegetal tem acarretado muitos impactos sociais e ambientais na região Amazônica. Impactos que se materializam pela ampliação da pressão exercida sobre a floresta amazônica, por práticas ambientalmente imprudentes e pela produção do carvão vegetal sustentada por trabalho precário, mal remunerado e insalubre.

Exemplo de um cenário diante do qual se desenha como alternativa é a manutenção da fabricação de ferro gusa nos moldes atuais e a incorporação de pequenos fornos elétricos a arco para a produção de aço. Contudo, a possível instalação de mini-aciarias na região, por si só, não resolve o principal problema socioambiental que envolve o beneficiamento do minério de ferro na região, vinculado aos efeitos deletérios da produção carvoeira, podendo inclusive agravá-los.

LOBÃO E O CORDEIRO

Essa é mais uma fábula da nossa maior sumidade em matéria de energia: Lobão, o outro é claro.
Qualquer estudante de geografia sabe que reservatórios de foz não produzem efeito retroativo sobre usinas de montante (Jatobá, Cachoeira do Caí, etc.). “Águas passadas não movem moinho”.
Sobrevoei o Rio Tapajós (pelo Google é claro) e constatei que São Luiz está quase ao nível do mar numa baixa altitude. Mesmo que fosse construído um imenso reservatório das três usinas, como a foto parece indicar, a energia potencial armazenada – produto do volume pela altitude -- seria ínfima.
Ainda que existisse alguma, a interligação com outras usinas seria inútil porque ‘não há transferência de energia potencial entre rios isolados de mesmo regime sazonal’.
A região Amazônica não é uma bacia única integrada, mas um conjunto de rios isolados sem ligação física que possibilite a transferência, como nos rios do Sudeste.
È como interligar duas barras de mesma tensão em um circuito elétrico.

Em busca de carvão vegetal barato:
o deslocamento de siderúrgicas para a Amazônia*
Maurílio de Abreu Monteiro**

GATO ESCALDADO

: TEM MEDO DE ÁGUA FRIA:
Não é a 1ª vez: compraram carro a álcool e ficaram na mão por falta de combustível. Não é a disponibilidade de terra o limitante do etanol, mas o custo: gasta mais petróleo que a produção de alimentos.
O álcool não é mais um substituto da gasolina do petróleo importado. Gasolina e gás é que são subprodutos da exploração de petróleo para suprir o agronegócio, mineração e o próprio álcool. O etanol é um produto de poder calorífico inferior que gasta mais petróleo na sua própria produção e transporte da cana do que soja, milho e minério.
Intimidar produtores de açúcar com restrição de crédito não é uma boa prática. Fica feio, mas a solução é importar álcool de milho -- custeado pelo contribuinte americano -- juntar mais água e misturá-lo aqui.
"Cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça".

ÁLCOOL: CACHAÇA DOS BRASILEIROS

Não constitui surpresa que o álcool venha a se tornar proporcionalmente mais caro do que a gasolina devido ao processo industrial onde o que mais importa é o elevado custo de capital da instalação, tanto para produzir “calor de processo” como eletricidade (caldeira a vapor).

Apesar de não ter não ter custos operacionais – uma vez que o insumo tem valor desprezível -- não há vantagem em queimar bagaço apenas porque é gratuito. Requer o manejo de quantidades imensas de bagaço seco de baixo poder calorífico que nem as olarias e cerâmicas utilizam, mesmo que cedido gratuitamente a título de limpeza.

A melhor aplicação para o bagaço é o retorno a terra na forma de composto orgânico combinado com o “vinhoto” altamente poluente.

Na região cafeeira do sul e cerrado mineiro a prática é comprar bagaço a preço de banana e fazer composto com resíduos de café despolpado, um produto altamente poluente.



NOVOS PROJETOS

Não basta ter melhor rendimento energético em termos entrada e saída de energia. É preciso que tenha custos compatíveis, sobretudo custos de capital e custo do transporte da cana em estado bruto.

Para tanto, os novos projetos devem contemplar maior número de mini-usinas para evitar maiores dispêndios com o transporte da cana por longa distância.
No componente agrícola consome diesel tanto na cultura como no transporte de cana em estado bruto, cuja proporção é de 7 toneladas de produto útil (álcool) para 70 toneladas de cana praticamente constituída de água e bagaço.

Utilizar termoelétricas a gás (ou álcool) na geração de eletricidade e utilizar os gases de escape na produção de “calor de processo” de usinas novas. Ou associar – na forma de usinas combinadas -- para melhorar o desempenho das antigas e economizar bagaço para outros fins como a produção de álcool celulósico. Ou ainda, utilizar o próprio gás diretamente na produção de “calor de processo”.


OS NOVOS IMPERIALISTAS

Nos países industrializados o consumo de energia é estacionário ou o crescimento da demanda per capita é inferior ao PIB idem. Não é de admirar que se torne decrescente como decorrência do ingresso destes países na nova economia de serviços, da eletrônica e da informação: basta uma ligeira recessão ou mesmo um pouco de civilização.
Hoje, os responsáveis pelo aumento da demanda de petróleo e grandes consumidores de produtos que gastam petróleo são os países emergentes. Principalmente o Brasil que tem sua economia exportadora baseada no agronegócio e mineração, que são intensivos em capital e fortemente dependente dos subsídios ao diesel. Enquanto que o setor industrial que mais emprega é severamente castigado por tarifas escorchantes. É o único país que cobra IPI.
Na minha cidade cada rua tem uma tarifa diferente. Igualzinho o imposto de renda: quem mais produz mais paga. Na periferia é a mais baixa: proliferam os gatos e as isenções: é onde dormem com luz acesa e demoram mais nos banhos. Os tontos da avenida principal é que se preocupam em utilizar aparelhos mais econômicos no uso-final

HONORIS CAUSA

TÍTULO
Este é mais um passo na direção de transformar a
Eletrobrás na “Petrobras do setor elétrico”, cuja re-estatização rendeu bons frutos eleitorais ao atual governo. Esta foi a 1ª, mas a Eletrobrás, como 2ª, é a que mais rende impostos e encargos através das subsidiárias, responsáveis pela geração e distribuição de energia, com os quais manterem a estrutura de poder necessária às mudanças sociais: “fora do poder não há salvação”.
A 3ª é a Vale, do setor de mineração, responsável – junto com o agronegócio -- pela manutenção do superávit primário. Estes requerem subsídios aos combustíveis para se manter.
A compra da EDP atende pedido do mentor -- “a quem está indissoluvelmente ligada”, segundo declarações da própria presidenta. Juntos estiveram na cerimônia em que o ex-presidente foi agraciado com o título merecido de doutor “Honoris Causa” na Universidade de Coimbra.
Diante das dificuldades pelas quais está passando a nossa “mãe Lusitana”, só falta agora anexar Portugal ao ‘Reino Unido de Brasil & Algarves’.

PRIVATIZAÇÃO DA VALE

O novo presidente não vai ter a mesma autonomia de Agnelli, mas não mudará significativamente a estratégia seguida pela diretoria anterior. Está condicionada a permanência do preço do minério de ferro que pode não durar para sempre. Segue a mesma linha de cautela da substituição de Meireles por outro da casa. Nos dois casos a mudança é quase imperceptível.
Tudo depende de acordos políticos na programada viagem a China ocasião em que a presidente estará sozinha para tomar suas próprias decisões.
O máximo que a China pode oferecer é a venda de carvão de pedra casada com a exploração local, da mesma forma como a maioria das siderúrgicas brasileiras já fazem. Não tem futuro. Só para China, EUA e Bulgária.
Do ponto de vista técnico e ambiental o futuro está exploração descentralizada da siderurgia a carvão vegetal e cogeração de energia por meio do gás natural e fornos a arco. Mas, esta é uma alternativa descentralizada que não interessa ao governo porque escapa ao controle estatal.

ELEFANTES BRANCOS

As decantadas usinas de biomassa não são expressivas. Utilizam bagaço de baixo poder calorífico em um processo termodinâmico antiquado. O rendimento monetário pode ser grande porque usam um insumo de valor comercial desprezível que nem as olarias e cerâmicas utilizam. Não compensa o transporte.
Nem como “calor de processo” as usinas de açúcar deveriam usar, muito menos para gerar energia elétrica num processo equivocadamente chamado de cogeração.
A verdadeira cogeração é a utilização de usinas de ciclo combinado, através de termoelétricas a gás ou álcool associadas na mesma planta, com pleno aproveitamento da energia calorífica do combustível:
- Energia eletro-mecânica útil no eixo do conjunto turbina-gerador.
- Energia calorífica – considerada perdas nos gazes de escape - utilizado para economizar bagaço que, por sua vez, é reservado para produção de mais álcool, no aproveitamento integral da cana de açúcar.

No sul e cerrado mineiro o bagaço de cana tem sido usado na fabricação do rico composto orgânico fermentado com sobras de café despolpado e vinhoto por via úmida que, lançado nos rios constituem severa ameaça ao meio ambiente. No mais das vezes é utilizado como cama de aviários, pocilga e confinamento de bois. Em última instância, como cobertura morta de pastagens degradadas.

PHOENIX

EFEITO CUMULATIVO

O Brasil importa álcool anidro com 1% de água, motivo suficiente para safardanas adicionarem mais água. EUA não produz álcool hidratado porque não têm essa besteira de carro “flex”. EUA subsidia ambos: etanol de milho e gasolina para despertar economia paralisada.
Resumo da ópera:
-- aumento do componente anidro da gasolina aditivada.
-- pequena oferta de hidratado de carros flex incentivados pela isenção de IPI e prazos longos.
-- Subsídio americano a combustíveis para ativar economia paralisada
-- Política burra de juros (selic) que favorece importação pelo cambio

PHOENIX
Querida Telma

Não poderia ser mais feliz a escolha da data de 31 de março:

"Qual Phoenix, ressurgem das cinzas os novos arautos das grandes obras. Os mesmos que foram críticos de 'obras Pharaônicas' do passado autoritário e ressuscitadores de nucleares outrora cognominadas de vaga-lume. Agora, em pleno regime democrático, anunciam a reciclagem do "entulho encaixotado" de Angra III e construção de mais 4, coisa que não condiz com a gravidade do momento que o mundo atravessa, nem com a seriedade com que o imperador e 1° ministro vêm a público pedir humildemente desculpas pelo incômodo causado.

Perderam ótima oportunidade de ficarem calados. Deve ser resultado da diplomacia de elefante em loja de porcelana, característica da nossa maior sumidade em matéria de energia (o outro, é claro): "que muito fala, corre o risco de dar bom dia a cavalo.

Parabéns pela sensibilidade. “Não li, já gostei”.

terça-feira, 29 de março de 2011

COGERAÇÃO DE USO MÚLTIPLO

O intenso tráfego de caminhões carvoeiros e de calcário pela 050 com destino às pequenas siderúrgicas de Itauna e Divinópolis evidencia um mercado promissor para o carvão vegetal que desestimula o corte de arvores naturais, substituído pelo corte de florestas artificiais especialmente cultivadas e mais eficientes do que as naturais.

A instalação de termoelétricas a gás ou etanol nas vizinhanças de Belo Horizonte permite o uso da cogeração para fins múltiplos com aproveitamento integral do gás:
--complementação térmica com alívio do sistema em 500 kV.
--Reduzir o consumo de carvão vegetal na produção de Gusa de inúmeras siderúrgicas regionais (perdas por gazes de escape).
--Utilização da eletrólise na produção de eletro intensivo (potência útil no eixo).
-- Recuperação de áreas degradas do cerrado mineiro.

sábado, 26 de março de 2011

ACIDENTE NUCLEAR

A maneira irresponsável como vem sendo anunciada a construção de Angra III e mais 4 nucleares no norte e nordeste não condiz com a gravidade da situação que o mundo atravessa. Nem com a seriedade como o assunto é tratado pelo governo japonês ao pedir humildemente desculpa pelos danos causados.

São os mesmos que condenaram Angra I e II como ‘vaga-lume’ e o acordo nuclear celebrado com a Alemanha pelo governo autoritário da época (Pasquim).

Agora – depois de passados 30 anos do acidente em Tree Mils Islands e Tchernobil – os mesmos críticos do governo militar se enchem de orgulho nacionalista anunciando a construção de Angra III com o mesmo material estocado (encaixotado) e fora dos padrões de segurança atuais.

FATOS OMITIDOS DO GRANDE PÚBLICO
1. Não há projeto novo nos 20 anos passados desde o acidente (Professor Rogério C. Cerqueira Leite da Unicamp)
2. Em Tchernobil houve rompimento do vaso de água pressurizada que não foi relatado à população atingida da Ucrânia e do resto da Europa.
3. Mas foi percebido por funcionários de usina nuclear sueca através de previsão meteorológica de ventos.
4. Em Angra houve acidente que não chegou a comprometer Angra I e II, mas pode comprometer Angra III devido aos acidentes climáticos decorrentes da ocupação desordenada recente, tal como em Petrópolis.
5. Não há outra referência a termoelétricas a gás em cogeração conforme apregoadas pelo professor Goldemberg no seu trabalho premiado “Energia para o Desenvolvimento”, datado de 1980, em que ressalta o uso-final da energia e escolha dos ‘vetores energéticos’, especificamente o gás de petróleo e etanol em termoelétricas.
6. Convivemos habitualmente com radiação ultravioleta e cósmica maléficos, mas que podem se tornar benéficos em tratamento assistido ou mesmo em exames de raios X e Gama (professora Emico Okuno do instituto de física da USP).
7. Acidentes acontecem, alguns com freqüência maior que não necessariamente sejam decorrência de eventos notáveis como os de Fukushima. O gravíssimo acidente com Césio, por exemplo, que deixou vítimas fatais foi decorrência de um prosaico descuido.
8. Hidroelétricas também estão sujeitas a rachaduras ou sobrevertimento por vazões seculares históricas alem das previstas (Graminha, Limoeiro e Euclides da Cunha na década de 70).
9. Assim como não existe meio ambiente impoluto, não há também sistemas elétricos invulneráveis a acidentes naturais.
10. Nos países industrializados o consumo de energia é estacionário ou o crescimento da demanda per cápita é inferior ao PIB idem. Não é de admirar que se torne decrescente como decorrência do ingresso destes países na nova economia de serviços, da eletrônica e da informação: basta uma ligeira recessão ou mesmo um pouco de civilização.

VETORES ENERGÉTICOS

USO-FINAL DA ENERGIA

Gás e etanol constituem as fontes mais promissoras neste bom momento que o país atravessa para a exploração de petróleo e cana de açúcar. Gás que seria queimado de qualquer maneira nos poços e plataformas; e etanol como alternativa viável de energia alternativa. Ambos acabarão se tornando subproduto da exploração do petróleo e cana de açúcar.

O fato mais importante está na melhora do desempenho do sistema atual, de forma descentralizada, retardando o grande Sistema Interligado Nacional.
Um sistema desconectado confina apagões ao subsistema em que o acidente ocorre, evitando a transmissão e distribuição -- os mais sujeitos aos riscos operatórios -- que constitui o principal foco de fragilidade do grande sistema interligado.

Não precisa perder investimento ao desativar antigas usinas, mas melhorar o seu desempenho através da cogeração. Nem perda de elevados investimentos nos grandes reservatórios do passado, mas aumentar sua motorização com acréscimo de novas unidades de baixo custo incremental.

quinta-feira, 24 de março de 2011

COGERAÇÃO

A cogeração é uma prática que tem sido pouco explorada no planejamento do uso-final da energia e na escolha dos vetores energéticos mais adequados para esse fim. Tem um sentido muito mais amplo do que a simples geração de energia elétrica a partir da queima do bagaço nas usinas de cana de açúcar. Por mais incrível que possa parecer, constitui uma das mais abundantes fontes de energia do momento (Goldemberg, “Energia para o Desenvolvimento”). Pode ser utilizada em vários locais do sistema atual sem grandes investimentos.

COGERAÇÃO NO SUDESTE

Permite economizar combustível fóssil de antigas térmicas a vapor ainda em atividade no sistema: Piratininga, Santa Cruz -- inclusive Candiota III recém ativada, mas ainda não inaugurada.

Utilizada junto aos centros de carga reduzem a necessidade de linhas de transmissão, ao mesmo tempo em que retardam esvaziamento reservatórios ou necessidade de novos por já serem estoques de energia potencial, disponível a qualquer hora, independente do clima. Com isso vão permitir aumentar a motorização das hidroelétricas atuais com acréscimo de novas unidades de baixo custo incremental.


Em alguns estabelecimentos onde predominam cargas de aquecimento o combustível do motor a gás ou etanol pode ser usado integralmente para produzir calor (aquecimento) e, ao mesmo tempo produzir iluminação e pequenos acionamentos. Hospitais, Clubes, hotéis, shoping, escolas, nos quais – indubitavelmente – o aquecimento por “anacrônicos chuveiros elétricos” constitui a maior demanda. São aplicações de grandes cidades onde mais cresce atividades de serviço, com recuo das grandes fábricas.

Em atividades que utilizam “calor de processo” e energia de acionamento: indústria de alimentos, laticínios, fornos de cerâmica e vidro, padarias, etc.


COGERAÇÃO NO CENTRO-OESTE

Termoelétricas a gás combinadas com antigas térmicas a vapor permite redução do consumo do bagaço, reservado para produção de mais etanol. O período de safra coincidente com a seca permite a complementação de hidroelétricas com ganho de sinergia.




COGERAÇÃO NO NORTE E NORDESTE

Combinadas com antigas térmicas pré-existentes permitem o aproveitamento total do gás de gasodutos já construídos, ao mesmo tempo em que complementam usinas de fio d’água para suprimento local e produção de minério eletro intensivo e siderúrgico a carvão vegetal.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ALIMENTOS OU ENERGIA

“Crise dos alimentos” sempre foi um argumento diplomático utilizado nas crises anteriores para justificar generosos subsídios para manter baixo o preço do grão, milho e soja, empregado na alimentação de animais. Ora, o grão não é, tipicamente, um alimento do ser humano. Ele os consome, em quantidade significativamente menor que os animais, claro, na forma de cereais e em conjunto com outros alimentos energéticos. Guardadas as proporções, os animais é que são os grandes consumidores de grãos, especialmente os bovinos de hoje, que aprenderam a consumi-lo com o homem. Soja e milho concentram 82.4% da produção agrícola brasileira de 2008. Apenas 7.6% correspondem aos outros alimentos energéticos (Arroz, trigo, feijão, batata, mandioca e outros). Na verdade o mundo não carece de alimentos energéticos, mas de alimentos protéicos como a carne, especialmente a carne bovina, que não consegue produzir em quantidade satisfatória por insuficiência de terra e combustível.
Se o temor é o de perder os fornecedores de grãos, isso já está acontecendo. Ao melhorarem de vida, os asiáticos desejam ao menos um décimo do consumo dos países industrializados (100 kg anual por habitante nos Estados Unidos), e não apenas alimentos energéticos como arroz, trigo e animais exóticos.
Na crise atual, a ameaça de impor regulamentos -- proposta do presidente Sarkosi – revela um temor ainda maior de perder o acesso e controle de todas as comodities: energia, agronegócio e mineração. Todas dependentes do preço do petróleo que tambem é uma comodity.
Alem de maiores produtores de bens tecnológicos e industriais, países industrializados (e China) ainda relutam em continuarem produtores de insumos básicos por meios impróprios.
O petróleo já esteve a 1 dólar/litro. Hoje está um pouco acima de 1 real/litro. O Brasil só tem a ganhar com a alta do preço.