sexta-feira, 11 de outubro de 2019

RIOS DA AMAZONIA TEM POUCA SINERGIA


Em “teoria de sistemas” dizemos que os rios da Amazônia têm pouca “sinergia”. 6. Em termos comparativos o total de energia que pode ser gerada, em Megawatts médios, é menor do que a produzida no Sistema Elétrico do Sudeste, que tem muito menos água. Os potenciais da Amazônia podem ser equipados para produzir potência, mas, cessadas as enchentes, as turbinas ficam ociosas, não produzindo energia. “O imenso potencial energético da Amazônia” não passa de um mito criado pelo “ufanismo”. Somente o uso inteligente dos recursos potenciais da Amazônia pode levar a resultados positivos quando conjugados com a produção de comodities metálicas de alto valor agregado em lugar da exportação de minérios ou exportação de energia. 7. Aqueles dentre nós que tiveram a sorte de viver a experiência da construção do Sistema Elétrico do Sudeste podem constatar hoje — com o sistema praticamente completo — a extrema habilidade dos técnicos da Eletrobrás na condução do seu planejamento. É bem verdade que encontraram um sistema — singular e único no mundo — de rios interiores de forte integração regional, que foi a principal causa do extraordinário sucesso do Sistema Elétrico Brasileiro na segunda metade do século passado. Junto com Estados Unidos, Canadá e a antiga União Soviética, o Brasil foi dos países que mais soube tirar proveito do seu sistema ao projetá-lo com uma visão geral antes mesmo que a moderna “Teoria de Sistema” estivesse plenamente estabelecida. Nos países citados o Sistema é regionalizado e complementado por térmicas. Mas o Brasil pagou um preço elevado pela intuição dos técnicos. O fato de não ter petróleo para complementação térmica levou a um extremo endividamento externo pela concentração de capital em empreendimentos hidroelétricos de grande porte (ver “Energia para o desenvolvimento”, trabalho premiado de José Goldemberg, 1980). Só para se ter uma idéia é bastante comprovar que no curto período de 25 anos o Brasil já havia concluído a maioria dos potenciais disponíveis e o petróleo ainda não subira de preço. A recente instalação das duas últimas turbinas de Itaipu encerrou, praticamente, o planejamento do sistema na região Sudeste-Sul. Para comprovar a “grande sinergia” do Sistema Sudeste, basta observar que os reservatórios de Furnas e Itumbiara constituíram imenso estoque antecipado de energia e capital, cujos efeitos permaneceram ativos até os dias de hoje. Durante um longo período o Sistema permaneceu incólume, com um único “apagão” em 2001, que poderia ter sido evitado com um mínimo de usinas termoelétricas. 8. Estamos tão seguros de que a subutilização (não otimização) dos potenciais da Amazônia é o melhor caminho a trilhar nas próximas décadas que não temos nenhuma dúvida de que as usinas de bulbo acabarão dominando o contexto da maioria dos potenciais dos rios da Amazônia. A proliferação indiscriminada dessas usinas pode levar o país a incidir no mesmo erro do passado, isto é, investimento de capital na construção simultânea de várias usinas com a finalidade de assegurar energia, quando existem estratégias mais seguras de manter “energia garantida” com baixo investimento. 9. A abordagem de cada sistema é bastante distinta pelas suas peculiaridades inerentes: O sistema Sudeste foi projetado para vazões mínimas correspondente à média do “período crítico”, enquanto o sistema Norte está sendo projetado por vazões máximas (média do período chuvoso), ignorando o critério de risco para ter “energia garantida”. Como os reservatórios são mínimos, o custo das usinas de potência é baixo, cerca de 80 R$ por Kwhora. Portanto é previsível que um grande número de usinas seja licitado simultaneamente para ter garantia de que não ocorra tambem um “Período Crítico” nas distintas bacias, o que é bastante provável, especialmente neste tempo de mudanças climáticas. Deste modo, acabamos incorrendo no mesmo erro do passado, ou seja, antecipação de investimento, com acúmulo de dívida. Ora, tudo isto poderia ser contornado com mais motorização das usinas do Sudeste. Como já estão prontas, algumas delas já amortizadas, sua capacidade instalada pode ser incrementada com instalação de unidades de custo incremental muito mais baixo do que a construção de novas usinas e a energia assegurada por termoelétricas a gás de baixo custo de capital. Invertem-se os papéis: Ao invés do Norte suprir o Sudeste rico, este é que supriria demanda dos estados pobres no seu período de seca. 10. Não se trata apenas de restringir a ação predatória dos grandes produtores de alumínio — como é desejo dos ambientalistas. Estes já estão depredando a Amazônia ao exportar minério bruto (bauxita). Por outro lado cumpre lembrar que o setor de mineração respondeu por metade do saldo de nossa balança comercial em 2008. Portanto, conjugar produção de energia com exploração de minério na Amazônia confere vantagens competitivas ao país como exportador de comodities metálicas de alto valor agregado. Esta é uma alternativa promissora do Brasil ocupar esta faixa de mercado, em lugar de exportar minério bruto.

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